Na quarta feira (9/7), o governo dos Estados Unidos, por meio de uma carta enviada diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anunciou que todas as exportações brasileiras para os EUA passarão a sofrer uma tarifa adicional de 50% a partir de 1º de agosto.
A medida, que se soma à tarifa extra de 10% já em vigor desde abril, levanta dúvidas sobre impactos econômicos, fundamentos legais e o equilíbrio das relações comerciais entre os países.
🧾 O que é essa tarifa?
A nova taxação é uma medida unilateral do governo americano, articulada pelo presidente Donald Trump com base na Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA, que permite retaliar práticas comerciais consideradas desleais ou contrárias aos interesses nacionais. Neste caso, a justificativa apresentada inclui:
- Alegações de barreiras comerciais brasileiras contra produtos dos EUA;
- Críticas às decisões do STF sobre regulação de redes sociais americanas;
- Reclamações quanto ao tratamento jurídico de Jair Bolsonaro;
A tarifa anunciada seria de 50% sobre todas as categorias de produtos exportados do Brasil para os EUA, embora ainda não haja uma ordem executiva formal publicada detalhando quais setores serão mais afetados ou se haverá isenções.
🛠 Como essa tarifa funciona?
Na prática, isso significa que um produto brasileiro que hoje entra nos EUA pagando, por exemplo, 4% de imposto de importação, passará a pagar 50%. A nova tarifa se sobrepõe às já existentes e tem o potencial de encarecer significativamente os produtos brasileiros no mercado americano, reduzindo sua competitividade frente a fornecedores de outros países.
Ainda não está claro se essa alíquota será aplicada de forma linear a todos os produtos, ou se haverá ajustes por setor algo que costuma ser feito em medidas semelhantes no passado, inclusive em países como China, Canadá e União Europeia, durante disputas comerciais anteriores com os EUA.
🌎 Contexto internacional: quando já aconteceu?
As tarifas impostas sob a Seção 301 não são novidade na política comercial americana. No passado, Trump já utilizou esse instrumento para:
- Taxar produtos chineses em até 104%, na chamada “guerra comercial” desde 2018 até os últimos meses
- Aplicar medidas contra o aço e o alumínio europeus e latino-americanos;
- Pressionar países do G7 a renegociar acordos bilaterais com os EUA.
Em quase todos os casos, essas tarifas provocaram tensões diplomáticas, retaliações cruzadas e queda no volume de comércio bilateral, ainda que, em alguns momentos, tenham sido revertidas mediante negociação.
📊 Qual o impacto prático para o Brasil?
Embora os EUA sejam o segundo maior parceiro comercial do Brasil (atrás apenas da China), as exportações brasileiras para o mercado americano representam cerca de 2% do PIB brasileiro e 12% do total das exportações nacionais. Os principais produtos enviados incluem:
- Óleos brutos de petróleo
- Produtos semi-acabados de ferro e aço
- Aeronaves e peças
- Café em grão
- Celulose
- Sucos de frutas
- Equipamentos industriais e peças de engenharia
Com a nova tarifa, esses produtos correm o risco de perder espaço no mercado americano devido ao aumento do preço final para os consumidores e compradores nos EUA. Isso pode impactar:
- A rentabilidade das empresas exportadoras;
- A manutenção de empregos no setor industrial e agroexportador;
- A atração de novos investimentos produtivos em setores voltados à exportação.
🧭 O que o Brasil pode fazer?
O governo brasileiro reagiu imediatamente, convocando reunião emergencial com ministros e publicando nota oficial afirmando que:
“O Brasil é um país soberano, com instituições independentes, e não aceitará ser tutelado por ninguém.”
Além disso, sinalizou que poderá usar a Lei de Reciprocidade Econômica, sancionada em abril, que autoriza a adoção de medidas equivalentes contra países que impuserem barreiras comerciais injustas ao Brasil.
A depender do desenvolvimento, o Brasil poderá:
- Abrir uma disputa formal na OMC, alegando violação de regras multilaterais;
- Aplicar tarifas compensatórias a produtos norte-americanos;
- Buscar negociações bilaterais para suavizar ou reverter a medida.
📌 Conclusão
A nova tarifa de 50% imposta pelos EUA sobre produtos brasileiros ainda pode ser negociada, ajustada ou revertida, como já aconteceu anteriormente, mas, enquanto isso, acende um alerta vermelho para exportadores brasileiros, para os formuladores de política comercial e para o equilíbrio diplomático entre as duas nações.
Mais do que números, essa decisão envolve uma disputa por influência global, liberdade de atuação jurídica e a capacidade dos países emergentes como o Brasil de proteger sua autonomia frente às potências globais.